Resposta a um Leitor Acerca da Política da Frente Única
A 4 de Abril, a UMLP recebeu o seguinte pedido de um estudante: "...A minha crítica, se é que se pode chamar de tal, é devido ao facto de não conseguir encontrar a posição ou material em relação à política do "frentismo" definida pelo terceiro congresso da terceira internacional, por parte da UMLP e da ICOR. Sendo que concordo com Francisco Martins Rodrigues na oposição ao frentismo, gostava de saber a vossa posição".
Excerto da Resposta da UMLP:
...Obrigado pela pergunta sobre a política de frente única da UMLP e dos partidos e organizações revolucionárias filiadas na ICOR. É útil primeiro esclarecer os termos.
Como Marxistas-Leninistas, representamos a política da frente única proletária como base indispensável para qualquer outra unificação concebível contra o capital.
Assim, conhecemos do passado a Frente Popular Antifascista, discutida em 1935 aquando a VII Congresso da IC (não o terceiro, como escreves), sob a liderança de Dimitrov.
Tendo em conta o crescente perigo de uma nova guerra mundial, devido à rápida intensificação das contradições entre os imperialistas, as organizações da ICOR juntamente com a ILPS defendem a criação de uma Frente Única Anti-imperialista e Antifascista. Podes encontrar a Resolução de Convocatória em baixo:
Se concordarmos com esta avaliação do desenvolvimento mundial, levanta-se então a questão do que tem de ser feito contra ele.
A causa de todo o mal reside no capitalismo, respectivamente, o imperialismo. Na sociedade capitalista, o proletariado é a única classe que é verdadeiramente revolucionária. Outras classes e camadas sociais também podem ser revolucionários mas, apenas parcialmente e em condições especiais.
Uma vez que o sistema capitalista está hoje espalhado por todo o mundo, o derrube do capitalismo/imperialismo e o estabelecimento da ditadura do proletariado é o objectivo estratégico comum da classe trabalhadora revolucionária de todos os países. Para tal, estabelecem-se alianças com as forças pequeno-burguesas oprimidas, na medida em que estas reconheçam a liderança proletária.
A tarefa dos comunistas na luta de classes é a de promover condições que facilitem a aproximação das massas à revolução com base na sua própria experiência.
A agitação e a propaganda, por si só, não são suficientes para isso. Apenas surtem efeito em conjunto com as próprias experiências políticas de luta das massas. Portanto, o pré-requisito para o crescimento da unidade no seio da classe trabalhadora é uma acção conjunta prática, seja na luta diária por questões salariais, etc., seja em exigências mais abrangentes como pela semana de 30 horas sem perda de salários ou a exigência de direitos políticos.
Isto requer paciência e conhecimento exacto da situação e do pensamento das massas por parte dos comunistas. Segundo Lenine, o que importa é que o que é ultrapassado para os comunistas não deve ser considerado como ultrapassado para as massas. É portanto necessário estabelecer a maior unidade prática de luta possível para cada exigência e, se necessário, por de lado o que nos separa de forma temporária. Todos os trabalhadores o sabem através da prática da luta salarial. Tal greve só pode ser realizada quando todos estão numa frente - quer sejam eles cristãos, não partidários, social-democratas ou comunistas.
Da unidade de acção em questões singulares a uma Frente Única em todas as questões essenciais - isto é, o caminho para a Frente Única do proletariado. E esta Frente Única proletária é o elemento propulsor activo e a espinha dorsal de uma Frente Única Antifascista, que depois inclui outros sectores da sociedade ameaçados pelo fascismo. Pois o fascismo oprime não só a classe trabalhadora, mas também sectores mais vastos da sociedade.
O fascismo governa principalmente pelo terror contra as massas trabalhadoras, mas também por meio da mentira. Em contraste, a democracia burguesa governa principalmente enganando as massas, mas também por meio do terror contra elas.
A Frente Popular Antifascista estabelece para si própria a tarefa de combater as medidas terroristas fascistas, protegendo as vítimas e lutando pelo objectivo de derrubar o fascismo como a forma mais brutal, mais agressiva e imperialista de domínio do capital financeiro. A maioria dos participantes pequeno-burgueses da Frente Popular Antifascista ficarão satisfeitos com a reintrodução da democracia burguesa como forma natural de domínio da burguesia, mas não o proletariado, que luta pelo socialismo.
Esta, em linhas gerais, é a nossa concepção da relação da Frente Única proletária e da Frente Popular antifascista. É neste sentido que entendemos hoje o nosso conjunto de tarefas da Frente Única anti-imperialista e antifascista que se baseia nas decisões do VII Congresso da IC e nas declarações de Dimitrov.
Isto significa, para a UMLP, que devemos concentrar-nos na classe trabalhadora para ancorar o Marxismo-Leninismo em Portugal. Cada camarada, cada trabalhador ou intelectual, cada jovem, cada estudante, todos, sejam homens ou mulheres que estejam dispostos a trabalhar e a lutar por ele, serão calorosamente recebidos por nós.
Estas observações sobre o VII Congresso Mundial da IC estão em completo contraste com o relato dado por Francisco Martins Rodrigues no seu livro "Anti-Dimitrov".
Se agora escreves que concordas com o Francisco Martins Rodrigues na rejeição do "frentismo"(??), a questão é se conheces os protocolos do VII Congresso e as contribuições de Dimitrov na forma original. Ou conhece-os apenas na sua desfiguração através do "Anti-Dimitrov"?
Neste último caso, pedimos que compares as duas versões. Verás que Francisco Martins Rodrigues distorce e falsifica as observações de Dimitrov de uma forma quase inacreditável, de modo a que o inverso do que Dimitrov na realidade disse é que vem à tona. Aqui está um exemplo do método utilizado por Francisco Martins Rodrigues na sua Introdução à Anti-Dimitrov:
No 1º capítulo "Frente Popular - Os Comunistas ao serviço da Democracia Burguesa" afirma que a política da Frente Popular de Dimitrov era anti-Leninista e que a perspectiva de Dimitrov era "a luta contra o fascismo como a fusão das posições de classe contraditórias numa corrente democrática comum".
E onde é que Dimitrov diz isto? Em lado nenhum, é claro. Assim, o Francisco Martins Rodrigues continua a explicar: "Esta perspectiva, não assumida de forma expressa em ponto nenhum do relatório...".
E agora seguem-se "Cinco Novas Teses". Mas nenhuma destas teses é da autoria de Dimitrov. Todas as cinco saem da caneta de Francisco Martins Rodrigues! São simplesmente atribuídos a Dimitrov.
Que tipo de método é esse? Como Marxistas-Leninistas, somos Materialistas Dialécticos. Somos obrigados a procurar a verdade nos factos. Não devemos tomar imaginações subjectivas para a realidade objectiva. Como vês isto?
Na primeira correspondência, queixas-te do mau estado do movimento comunista em Portugal. É claro que a traição revisionista do PCP é a principal responsável por isto. O Francisco Martins Rodrigues tinha reconhecido esta traição desde cedo, o que lhe deu alguma posição no movimento da esquerda. Mas ele não chegou realmente ao fundo da questão que consistiu na traição do socialismo pela restauração do capitalismo na URSS. Em vez disso, procurou as causas no próprio socialismo, como mostra o subtítulo do seu Anti-Dimitrov.
Desta forma, ele próprio contribuiu significativamente para o estado das coisas em Portugal, com o qual estás justificadamente preocupado...